sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Mil Faces Capitulo V - O Duelo

Alvante, Alva e Satoshi conversavam preguiçosamente nos fundos do restaurante, era domingo pela manhã e o movimento era fraco. Contavam sobre histórias da vida e tentavam imaginar um possível passado de Satoshi, que não se lembrava de nada. Ouviu-se um grito que surgiu da cozinha e ricocheteou até a salinha dos fundos. Um homem gordo e sujo de óleo passava correndo pela cozinha esbarrando em tudo que ficava em sua frente.

- Madame Alvante! Soldados! Há soldados em todo o quarteirão! Eles querem vê-la...
- Tudo bem, diga que eu já vou... Vocês dois fiquem quietos ai, eu vou ver o que aquele louco do Delegado Houston quer... Quem ele pensa que é cercando meus clientes e armando toda essa confusão...!

Dizendo isso ela se levantou e foi até a frente da loja. Satoshi levantou-se e ficou imóvel ao lado da porta para tentar ouvir o que falavam. A garota também se aproximou mas por mais que tentassem não conseguiam ouvir nada, Satoshi então pensou em ir até a frente do restaurante saber o que estava acontecendo mas foi impedido pela garota.

- Eles provavelmente estão aqui por você, é melhor ficar quieto aqui, minha mãe cuidará de tudo...
- Se eles me querem, não vou simplesmente ficar aqui parado, vou enfrentá-los.
- Essa é a cidade com maior taxa de assaltos e assassinatos, você acha realmente que eles se esforçam para fazer um julgamento justo e digno? Eles te matariam antes mesmo de saber quem é, é assim que a cidade funciona... – disse isso e deixou escapar um leve riso irônico. Satoshi percebeu alguma coisa estranha e tocando o canto de sua boca percebeu que era diferente, parecia deformada. A garota recuou e disse:

- Bom, nem tudo pode ser perfeito não é? Eu nasci com uma parte do meu rosto paralisada, por causa disso nunca fui muito popular...
- Parece ser o destino de alguns terem marcas que nem o tempo pode tirar... – Disse isso com um sorriso sarcástico no rosto, brincando com a própria situação.

Alva tentava retirar a atenção de Satoshi com o que acontecia lá fora e começou a conversar sobre assuntos aleatórios.

- Sabe, meu nome é em homenagem a minha avó, que também se chamava Alva, ela era branca como a neve...

Mas ele parecia não dar tanta atenção, apenas olhou para ela e demonstrou um pequeno sorriso voltando a tentar escutar algo do lado de fora. Bem, não consigo escutar nada, vou lá fora ver o que está acontecendo para a Madame estar demorando tanto. Alva rapidamente agarrou seu braço tentando impedi-lo mas ele sem se virar disse:

- Vai ficar tudo bem, posso ser cego, mas tenho minhas habilidades.

Dizendo isso tomou de posse um longo cilindro de madeira que servia para escorar a porta do quartinho que eram armazenados os ingredientes dos pratos. Saiu tateando o chão, paredes e pessoas com sua bengala improvisada, pedindo desculpas quando acertava a perna de algum cozinheiro ou cliente. Chegou à porta e parecendo muito animado disse:

- Parece que se armou uma boa confusão aqui na frente, posso saber o porquê do ocorrido? – Se concentrou e percebeu que o rapaz que deu a noticia dos soldados aumentou um pouco a história, eram apenas o delegado e mais três guardas a frente do restaurante.
- Eu sou o Delegado Houston e você está preso.
- Posso saber sob qual acusação? – o rosto de Satoshi tornou-se sombrio.
- Invasão e furto da casa de um morador durante a noite.
- E como pode provar isso? Ou melhor, como eu poderia fazer isso? Caso não tenha percebido eu sou cego.
- O ferimento em seu braço, posso vê-lo?
- Naturalmente... – falando isso estendeu o braço para Madame Alvante, para que desenrolasse a atadura.
- Perfeitamente, o ferimento descrito pela vitima. Em seu depoimento ele disse que um homem com uma capa preta surgiu dentro de sua casa no meio de sua sala de estar pela madrugada e que ele tentou expulsa-lo com um vaso que pegou em sua mesa de centro, partindo-o e utilizando como arma de corte, disse que atingiu o invasor no braço esquerdo exatamente no centro. Preciso de mais provas que isso?

Satoshi ia retrucar a acusação mas foi impedido por Madame Alvante que disse :

- Delegado, o garoto mal consegue andar sem tropeçar, o corte em seu braço pode ser coincidência, não deve ser difícil para uma pessoa cega nessa cidade se machucar não acha?
- Coincidência ou não ele é suspeito do assalto e vou levá-lo comigo. Venha comigo agora, se reagir só vai piorar sua situação.
- Tudo bem... – Disse Satoshi que ao tentar dar um passo começou a se desequilibrar e no momento da queda inevitável lançou sua bengala para frente atingindo o queixo do Delegado que com a pancada foi ao chão. Os guardas imediatamente cercaram Satoshi que com um rápido movimento se abaixou e girou o bastão próximo de si derrubando os dois guardas que ficaram fora de seu campo de “visão” e logo após atingindo o guarda em sua frente com um forte ataque em seu estomago, que o derrubou. O delegado levantou-se rindo e disse:

- Então você gosta de brincar não é?
- Tem que se aproveitar cada momento da vida não acha?
-Claro Claro...

Houston deu um longo Assovio e apareceram cerca de vinte guardas dos becos próximos. “Talvez aquele rapaz não estivesse exagerando afinal...” pensou Satoshi.

- Acabou a brincadeira, melhor se entregar pra evitar que te machuquemos... muito...
- Sei que já fiz muitas coisas erradas na vida, e sei que um dia vou pagar por elas – Satoshi deu um longo suspiro como se o passado viesse a tona em sua mente – mas acredite delegado que esse dia não é hoje e não será você meu algoz.

Sacou sua espada oculta por seu sobretudo e sem esperar qualquer movimento dos guardas avançou ferozmente e antes que a primeira gota de sangue tocasse o chão, antes que o primeiro corpo sem vida chegasse ao seu futuro lar, dez homens jorravam o liquido da vida modificando drasticamente o cenário. O restante recuou e correram gritando que aquele não era um homem, era um demônio. Apenas Houston ficou imóvel frente e a frente com Satoshi.

- Até a morte? – Disse Houston
- Até o fim.- Retrucou Satoshi

Os dois lançaram-se com um fervor e uma sede de sangue comparável a beserks em uma linha de frente de uma batalha. Seus golpes de espadas eram tão fortes que quando o metal se tocava parecia o grito de uma Siren em um vasto deserto. A luta épica chamou a atenção dos moradores que começaram a se aglomerar próximos àqueles titãs. A perícia em combate era tamanha que não encontravam falhas em seus golpes e foi necessário que Satoshi deixasse ser atacado para ter a chance de acertá-lo. E assim foi feito, um golpe de raspão próximo ao pescoço, terminando com o revide de um golpe mais profundo também próximo ao pescoço do delegado. Alva que assistia a tudo percebeu que eles realmente poderiam se matar e resolveu impedi-los de fazer aquela loucura. Não se sabe no que ela pensou ou se ao menos pensou em algo antes de se atirar no meio daqueles dois homens ensandecidos que com a presença dela entre eles apenas recuaram um pouco e com uma rápida troca de olhares se desafiaram e partiram para um ultimo golpe. Foi muito rápido, Houston apesar de ter sangue frio hesitou em atacar a garota inocente, o contrario de Satoshi que sem piscar com um único golpe de espada partiu Alva ao meio e feriu mortalmente o delegado. Houve alguns segundos de silencio enquanto uma lagrima corria no rosto de Alva rapidamente manchada de sangue que jorrava de seu corpo morto. O povo então tomado pela fúria avançou para atacar Satoshi, porém o corpo do delegado morto começou a flutuar e de dentro de um pingente que carregava surgiu a alma de um cavaleiro que voou para dentro do pingente de Satoshi. O povo então parou e com medo de ele ser realmente um demônio e recuaram, ele então aproveitou a chance e fugiu da melhor forma que conseguiu dali.

Ele agora viaja sozinho tentando entender o por que de tudo aquilo estar acontecendo e quem ele foi antes daquilo. De quando em quando se lembra de Alva e da forma que a matou, mas não fica triste e inconsolável, fez aquilo pela própria sobrevivência.Criou uma frase que iria se tornar seu lema para toda a vida: “O mais forte supera o mais fraco, ao fraco sobra apenas o papel de ser esmagado.”

Nenhum comentário:

Postar um comentário