sábado, 9 de janeiro de 2010

Mil Faces Capitulo IV – O inicio da jornada

Acordou com o forte cheiro de carne podre. O cheiro era como se estivessem esfregando ela em seu nariz e mesmo tentando impedir o cheiro de invadir suas narinas era impossível. Levantou para tentar descobrir onde estava, mas ao abrir o olho não via nada, mas não tinha tempo para pensar, pois sua cabeça era inundada de vozes altíssimas e o chão tremia como em um terremoto.Sentindo-se completamente atordoado só conseguiu fazer uma coisa,correr. Correu o mais rápido que pôde para longe dali, sentia esbarrar em várias pessoas e refinando as vozes percebeu que estava em algum tipo de mercado. Conseguindo sair daquele inferno encostou-se em um canto e abriu vagarosamente seus olhos não acreditando no que tinha acontecido, com eles completamente abertos e apenas escuridão a sua frente, riu de sua própria desgraça e tentava imaginar o que aconteceu para estar naquela situação. Lembrava-se vagamente de uma espada em um vasto salão muito bem ornamentado, um velho e estatuas. Forçava a mente tanto que mal percebeu a aproximação de uma jovem moça descalça que o abordou com uma voz aparentemente preocupada.

- Você está bem? Está sangrando! O que aconteceu? Venha para dentro... Cuidaremos de você...

Satoshi estava tão atordoado com tudo aquilo que não sentia o enorme corte que possuía no braço. Pensou que poderia ser perigoso, mas aquela pessoa lhe passava uma confiança que não o permitia tentar fugir.Ela o ajudou a se levantar e caminharam para uma porta a cerca de três metros do local onde estavam. Ao entrar no estabelecimento sentiu ser um restaurante pelos barulhos de pratos e pessoas falando assuntos aleatórios, mas antes que pudesse se centrar foi puxado com cada vez mais velocidade pela garota que gritava uma palavra estranha, algo como "Alvante". Após a palavra ser repetida por umas dez vezes ouviu-se uma voz de resposta vindo de cima, de um segundo andar provavelmente. Parecia diferente da garota, mais baixa e muito gorda.

- Sim minha filha já vou.... O que você quer?
- Encontrei esse rapaz estirado no beco de casa sangrando, temos que ajuda-lo.

A senhora rapidamente largou tudo que tinha e correu para o quartinho dos fundos do restaurante e trouxe com ela alguns remédios e ataduras.

- Foi um belo corte rapaz, olhou para a acompanhante de alguém? Talvez de algum dos gângsters da cidade- Virou-se sorrindo para o rosto de Satoshi e percebeu que ele era cego. Quando se preparava para pedir desculpas ele retrucou:

- Antes fosse, pelo menos teria um momento bom para me lembrar enquanto sou incomodado por essa ferida - disse sorrindo.
- E de onde o senhor vem? Pelas roupas não é daqui, talvez seja por isso que tenham te agredido, são muito preconceituosos com os de fora aqui.
- Gostaria de saber inicialmente onde estou e que roupas estou vestindo para causar a fúria da cidade...

A velha senhora sem se importar com a estranha resposta que recebeu terminou o curativo se recostou na velha cadeira que estava, o que fez ela ranger ruidosamente, e após um longo suspiro disse:

- Estamos em Elrios, a cidade comercial do reino de Mochia. Quanto a suas roupas, Traja algo que se assemelha a uma fina armadura feita sob medida e uma longa capa rasgada, totalmente pretas. Parece rico a primeira vista, mas você não transparece isso. É um ladrão talvez? Aproveita-se de sua cegueira para roubar as casas de pessoas que tentam te ajudar....
- Imagino que se fosse um ladrão portaria uma pequena adaga e estaria nesse momento partindo o seu pescoço e logo após seguraria sua filha para evitar que ela chamasse a atenção dos cozinheiros. Levantaria, levaria ela como refém, mas passando como tudo normal e faria ela me levar para o local que guarda as peças de valor, provavelmente em seu quarto que fica no segundo andar, a julgar pelo peso dos móveis. Porém como eu faria para vendê-los depois, se nem o menos poderia conferir o que roubei e se estaria fazendo um bom negocio ou não, a não ser que eu tenha um parceiro que espere tranquilamente do lado de fora para depois vender a mercadoria... – disse isso colocando sua mão sob o queixo - seria um bom plano...

Ouviu então uma forte gargalhada da dona do estabelecimento que se atirou para trás, levando a cadeira ao seu limite.

- A única falha em seu plano é que as coisas de valor não estão no quarto do segundo andar...
- Conseguiria essa informação enquanto perfuraria o rim de sua filha, disso tenha certeza. Desculpe, mas ainda não me disse onde estou...
- O que precisa saber é que não deve ficar estirado por ai em becos abandonados, teve sorte que Alva o encontrou, do contrario teriam levado seus pertences e te matado. Venha tenho um quarto de hospede que pode usar para descansar.

Dizendo isso se levantou e abriu a porta o guiando até um singelo quarto no segundo andar, próximo ao seu.

E lá ficou durante duas semanas, ajudando em serviços de casa e até mesmo no próprio restaurante servindo os clientes. De vez em quando saia com Alva para fazer compras e passear pela cidade, divertiam-se muito e se sentiam muito ligados. Porém, quando Satoshi tentava tocar seu rosto para imaginá-la, Alva se esquivava e fazia de tudo para mudar de assunto, ele apesar de achar estranho não se importava com isso. A vida parecia boa, até um fatídico dia.

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